Charlie Santos (Variedades)


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segunda-feira, 8 de março de 2010

O RESTAURANTE CECILIA Por José A S Neto

O RESTAURANTE CECILIA Por José A S Neto Na década “dourada” de Macau – os anos cinquenta do século passado – um dos “ornamentos” da cidade era, para o bem e para algumas maldades inconsequentes, a profusão de fardas de caqui dos militares do exército português.Os oficiais, sargentos e praças, classes bem distintas e compartimentadas, depois das suas obrigações de serviço cumpridas, espalhavam-se pelos quatro cantos do burgo e tinham sítios certos como pontos de encontro.Para encontrar “todo o mundo” servia o Largo do Leal Senado e a Avenida Almeida Ribeiro, mas para um determinado tipo de interesses comuns a grupos mais ou menos restritos havia os Cafés e Restaurantes. Eram autênticas “tertúlias” onde o estar e conversar se sobrepunha ao comer e beber.Um desses lugares de eleição, para Praças e alguns Sargentos, era o Restaurante Cecília, situado na parte mais alta da Rua Pedro Nolasco da Silva, logo a seguir e do lado contrário ao Hospital de S. Rafael, para quem vai da Rua do Campo.Era propriedade da família Quevedo da Silva e o nome do estabelecimento vinha da filha mais velha, a D. Cecília, que era funcionária pública e só lá aparecia de vez em quando. Tal como um irmão Roberto que andava na marinha mercante.O “Papá e a Mamã” (era assim que eram tratados pelos frequentadores) geriam com infinita paciência o negócio de comidas e bebidas retintamente portuguesas.O cliente mais ilustre e estimado da casa era o senhor Padre Sarmento. Ao cair da tarde apeava-se do “riquexó”, tirava o seu capacete de “caçador de leões” e, enquanto saboreava o chá, conversava com a rapaziada evidenciando uma jovialidade digna de inveja. Divertia-se imenso a desmontar e contrapor os subentendidos maliciosos das conversas dos mais atrevidos que o acicatavam, só para o ouvir.A Fina (Delfina) tomava conta da escrita, um tanto trabalhosa porque a maior parte da clientela utilizava o “aponta’í” e pagava no fim do mês. Além disso escolhia a música ambiente (era mais Pat Boone que Elvis Presley) e aturava, com uma delicadeza muito própria e dissuasora, os dichotes da meia dúzia de paixões serôdias que eram conhecidas e “gozadas” pela malta.O maior acontecimento do restaurante foi a aquisição e instalação da primeira “mesa de matraquilhos” em toda a Ásia. (O Guiness não regista o facto, mas aqui fica o testemunho para a posteridade).Não é só para que conste que trago os “matraquilhos” à conversa.Os outros dois irmãos da Fina, o Johny (João) e o Tchito (Gilberto), na altura jovens estudantes, em pouco tempo tornaram-se imbatíveis naquele jogo.Apareciam os maiores “craques”, campeões da Mouraria e arredores, com truques complicados e anos de treino na Feira Popular de Lisboa, e levavam cada “cabazada”!!!A sua táctica consistia em fazer perder a paciência aos impetuosos adversários e, com a habilidade característica do “seu lado chinês”, empurrar a bola de mansinho para o golo.Bons tempos, meus amigos… Que saudades!!!
José A.S. Neto, ou, simplesmente Zé Neto, como era conhecido entre os amigos macaenses, nasceu em Leiria em 1929 e faleceu em 2007. Viveu em Macau de 1951 a 1961. Grande sujeito ... amante das coisas de Macau.
Uma leve correção: - a irmã mais velha dos Quevedo da Silva não era a Cecília, mas sim a minha mãe, Maria Quevedo -. (Canicha)

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